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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Necessitamos de amor

Necessitamos de amor. Ele dá sentido às nossas vidas. É o combustível que nos anima. Sem ele é difícil suportar o destino, ou amar a vida, como diz Morin.

O amor é-nos intrínseco, e, de acordo com certa visão científica, ele é o herdeiro de um certo sonho bacteriano: o sonho remoto de qualquer bactéria em se unir e fundir com outra.

O amor transmuta-nos, transforma-nos, ou afunda-nos (na sua falta). É ele que, inclusivamente, está na base de alguns dos nossos ódios, e de muitos crimes: por amor a uma certa ideia de Deus e a verdades religiosas interpretadas de forma estreita, encerrando uma concepção pobre do homem e da vida, os fundamentalistas muçulmanos cometeram morticínios como os do 11 de Setembro e do 11 de Março.

O terrorismo e o ódio podem ser formas pervertidas de amor. O amor frustrado, e tudo o que se opõe ao amor, tornam-se facilmente objecto de ódio. O amor esconde-se nos mais diferentes níveis da nossa existência e da nossa procura de felicidade e plenitude, e assume, por isso, diferentes formas, conteúdos e graus.

Há o amor a ideias, a projectos e a ideais. Há o amor a Deus: «Tarde te comecei a amar, meu Deus, minha Beleza tão antiga e tão nova, tarde te comecei a amar» (S. Agostinho).

Há o amor de mãe, de pai, de filho, o amor familiar, com tudo o que ele tem de intenso, de visceral, de profundo e autêntico…

Há o amor fraternal, expresso em solidariedade e simpatia para com os outros: «Quando sentimos amor e simpatia pelos outros, isso faz não apenas com que os outros se sintam amados e estimados, como também ajuda a desenvolver sentimentos internos de paz e felicidade» (Dalai Lama).

Há, inclusivamente, o amor a todas as criaturas, ao mundo, aos animais, de que S. Francisco de Assis é talvez o expoente maior: «Quis tratar os silenciosos animais, por mais pequenos que fossem, pelos nomes de ‘irmão’ e ‘irmã’, reconhecendo neles a mesma origem que a sua» (S. Boaventura).

Mas o amor mais cantado, e que mais comentários atrai, envolve a paixão amorosa, o enamoramento, o amor entre homem e mulher, com todo o encantamento, poesia, grandeza, excepcionalidade, que pode conter.

É esse o amor que nos leva a «ver o mundo com outros olhos», e a ver formas de «beleza superior» (Santayana). É a ele que se associa o mundo da «poesia», contraposto ao «mundo da prosa» (Rimbaud).

É ele que «enfeitiça os leões caçadores da montanha, os animais do mar, o homem e todas as criaturas que a Terra alimenta» (Eurípides).

É a ele que Shakespeare se refere em Uma Noite de Verão, quando diz que «Amantes e loucos têm cérebros tão fervilhantes, tão cheios de fantasias, que superam tudo o que a fria razão pode entender».

É essa a grande forma de amor cantada ou analisada por poetas e romancistas, presente na Bíblia, no Cântico dos Cânticos («Os teus dois seios são dois filhotes gémeos de gazela, que se apascentam entre os lírios». «Quero ir ao monte da mirra e à colina do incenso. Toda bela és tu, ó minha amada, e em ti defeito não há»), ou presente nas grandes sagas medievais, como a da Lancelote e de rainha Genebra.

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